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Crônicas de Session: O "Sr. Brasil" de County Clare

Atualizado: 27 de jan. de 2022

Não diria que sou “a louca da session” - aquela pessoa que está sempre disposta a ir à todas as sessions possíveis todos os dias (conheço muita gente assim!). Especialmente morando aqui em Galway, onde em épocas de pré pandemia haviam pelo menos duas sessions por dia em cada pub. Costumo frequentar uma ou duas sessions por semana e olhe lá. Mesmo assim, tenho algumas histórias acumuladas nestes últimos anos, desde quando comecei a ser host das sessions do Deep Bar 611, em São Paulo, lá por meados de 2014 até hoje em dia.


Mas hoje vou contar sobre uma que foi muito especial para mim por vários motivos. Eu tinha acabado de me mudar para a Irlanda e ainda estava bem tímida para tocar, até porque eu ainda estava me habituando às tunes da região e de cada lugar. Sim, cada session e cada parte da Irlanda tem sua lista de tunes mais tocadas, e me faltavam (e ainda me faltam) muitas das “Bog Tunes”, que seria a nossa tradução de “música carne de vaca” ou "música manjada". Enfim, estava praticamente recém chegada na ilha esmeralda e meu grande amigo Danny Littwin nos veio fazer uma visita, e nos levou para a charmosa e pequenina Doolin, em County Clare. Ficamos alguns dias por lá e fomos rever velhos amigos do Danny - entre eles, o lendário flautista Christy Barry, que junto a sua esposa Sheila Quinn mantém a tradição de receber pessoas em casa para tocar e contar histórias, com direito a petiscos maravilhosos, bebidinhas e uma lareira para manter a sala quentinha e aconchegante. A casa é conhecida como Doolin Music House e recebe desde amigos, músicos que estão de passagem pela região até turistas que querem sentir o que é uma verdadeira experiência local.

Christy e Sheila

Mas quero apresentar um pouco mais quem é Christy Barry - um dos flautistas e spoon players mais reconhecidos no mundo da música tradicional irlandesa, ele carrega a tradição da região de Clare na sua sonoridade e passou seus últimos 40 anos fazendo turnês pelo mundo todo. Christy tem até um set de tunes que é muito conhecido com seu nome - Christy Barry’s Jig. Se você frequenta sessions provavelmente já a escutou em algum momento.



Danny é amigo de longa data de Christy. Chegamos na casa relativamente cedo e assim fiquei horas assistindo os dois conversarem sobre mil histórias do passado - de um lado um sotaque mega nova-iorquino e do outro lado um sotaque puxado que acredito ser da própria região de Clare. Bom para treinar o inglês! Brinco até que Christy é o Rolando Boldrin irlandês, por serem bem parecidos fisicamente e por contar histórias de um jeito bem similar e sempre bem humorado!


Outras pessoas foram chegando conforme o dia passava. Alguns turistas americanos, um violonista da Alemanha e outro que não me lembro bem de onde era, mas estava lá esperando a hora de tocar. Até que Christy puxa algumas cadeiras e sua flauta e começa a tocar algumas tunes com o fiddler James Devitt e com o Danny. Eu e o César (meu marido que estava ali comigo) ficamos observando até sermos chamados para tocar também. Aos poucos fui me soltando e comecei a puxar alguns sets que eu sabia que iria dar conta, até por estar acostumada a tocar com o Danny e o César. Me lembro de estar ali tocando de olhos fechados, até me dar conta de onde estava e com quem eu estava tocando. Não estava conseguindo acreditar que eu estava tocando um set junto ao Christy Barry e com meus queridos companheiros de Oran. Além disso, era um fim de tarde espetacular de verão irlandês e o sol estava batendo nos Cliffs e nas montanhas, que dá vista da janela de vidro da sala. Tudo muito surreal para uma musicista brasileira recém-chegada, cheia de medos em um país totalmente diferente.







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