A concertina é um instrumento bem popular no meio da música tradicional irlandesa e é um objeto relativamente comum de se achar em estantes ou em cima de lareiras em casas irlandesas. Aliás, muitas das vezes que vou conversar com alguém nativo daqui da região oeste da Irlanda, a frase “eu não toco, mas tenho um tio, primo, prima, filho, filha… que toca concertina!” é bem corriqueira. No Brasil, porém, conheci pouquíssimas pessoas que tinham ou tocavam esse instrumento, ainda mais aplicado na música tradicional irlandesa. E você, já conhece?
A concertina vem da família dos acordeões. Na música popular brasileira o acordeão é um instrumento muito marcante, tanto no nordeste quanto no sul do Brasil. Um que é bem familiar aos nossos ouvidos é a sanfona - muito comum na música nordestina, é aquele que possui um teclado de um lado e botões de baixo no outro. Talvez esse seja o que mais estejamos familiarizados, até por ver em outros estilos de músicas também européias.
Além da sanfona, no Brasil temos o acordeão de botão (ou gaita de botão, gaita-ponto, gaita botoneira e etc) muito tocada no Rio Grande do Sul e na cultura gaúcha. Esta, diferente da sanfona, não possui um teclado e sim somente botões em ambos os lados. Voltando a concertina, podemos dizer que essa se assemelha mais ao acordeão de botão pelo seu sistema bissonoro e por não ter teclado. Ainda assim, seu formato é bem diferente - a concertina é hexagonal e cabe facilmente no colo por ser pequena.
As concertinas normalmente usadas na música irlandesa eram construídas por ingleses e eram inspiradas no modelo alemão, por isso são conhecidas como “Anglo-German Concertinas” ou apenas “Anglo Concertinas” (que é diferente da English Concertina!), com vinte ou trinta botões espalhados pelo instrumento e é categorizada como um instrumento de palhetas livres bissonoro. É o mesmo sistema da famosa gaita de boca - a nota se difere quando se assopra ou puxa o ar - ou seja, na concertina a nota também se difere conforme se fecha ou abre o fole, ainda que esteja apertando o mesmo botão.
Também é um instrumento diatônico assim como a tin whistle, porém é possível fazer alguns cromatismos quando se tem botões com notas acidentais, justamente para dar mais possibilidades de acordes e tonalidades, mas ainda assim não é um instrumento totalmente cromático.
Como eu disse anteriormente, a concertina é um instrumento muito encontrado no trad, e por conta disso temos referências em músicas antigas e modernas. Niall Vallely, Edel Fox, Fionnuala Hannigan-Dukley, Cormac Begley e Mohsen Amini são músicos que admiro muito, todos com estilos diferentes na tocabilidade. Deixo aqui dois exemplos de músicos atuais que ando escutando bastante:
Cormac Begley tocando uma versão da tune "O'Neill's March” usando uma concertina de tonalidade mais grave. Acho essa interpretação incrível, especialmente por ele usar o instrumento de uma maneira que nunca tinha ouvido antes. Quase uma versão eletrônica misturada com um som de didgeridoo - mas apenas com a concertina! E claro, mantendo toda a linguagem do trad.
E outra um pouco mais tradicional - Mary MacNamara e o fiddler Martin Hayes tocando dois reels. É um exemplo bem claro do estilo de Clare, com bastante ornamentação e uma melodia mais limpa.
Fiquem ligados nos nossos outros artigos da série de instrumentos do trad!
Parece mais simples que a sanfona, mas mesmo assim, parece um instrumento dificil de tocar. Muito interessante.