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Irish Session Nacional 2023 - Como se preparar para a grande session na próxima semana!




Após alguns meses hibernando, temos o prazer em voltar com nossas séries de artigos trazendo a notícia de que a grande Irish Session Nacional deste ano está chegando! O evento organizado pela Comhaltas Brasil acontecerá no Rio de Janeiro, nos dias 02 e 03 de Dezembro, com direito a várias doses de sessions! Desde sessions mais avançadas e educacionais, até jam sessions mais descontraídas.


02/12 - Local: Casa de Luzia (Rua Evaristo da Veiga, 149 - Lapa, Rio de Janeiro, RJ)

  • Irish Slow Session - 16:00h

  • Irish Session Tradicional - (educacional - simulando uma Session Irlandesa) - 17:00h

Irish Session Livre - 19:00h

03/12 - Local: Oscar Selvagem Pub (Rua Paulo Barreto, 121, Botafogo - Rio de Janeiro, RJ)

  • Irish Slow Session - 18:00h

  • Irish Session Livre - 19:00h

Atenção: É importante entender o propósito de cada session do evento. As sessions são abertas a todos, mas não quer dizer necessariamente que não existam regras, níveis diversos e o bom e velho bom senso! Para explicar isso melhor, recomendo este texto muito esclarecedor sobre o assunto escrito pelo músico e Chairman da Comhaltas Brasil, Kevin Shortall.

Leitura extremamente recomendada antes de mergulhar no mundo das sessions!



COMO SÃO AS SESSIONS DE MÚSICA TRADICIONAL NA IRLANDA?


  1. Introdução


Session é o nome em inglês de encontros mais ou menos informais de músicos de Música Tradicional Irlandesa para tocar, semelhantes às rodas de choro e samba que temos no Brasil.

O sucesso destas fala por si: são um fenômeno cultural que se replicam mundo afora, especialmente em países da diáspora irlandesa. São conhecidas por normalmente serem um ambiente musical agradável, receptivo e inclusivo. E embora isso costume ser verdade, não significa que sejam totalmente desregradas ou anárquicas. Na realidade, as sessions mais regradas costumam ser justamente na Irlanda, e não por acaso, como veremos. Muitas pessoas acostumadas a sessions em outros países, que costumam ser bem mais relaxadas, acabam passando por situações constrangedoras na Irlanda, às vezes por conta de um anfitrião de session sisudo ou intolerante, mas às vezes também por não entenderem que talvez aquela session tenha uma proposta mais específica, com a qual não estão familiarizados. 

O escritor cômico irlandês Frank McNally ironicamente escreveu: “Não seja enganado pela aparente inclusividade do grupo, que parece dar as boas-vindas aos recém-chegados e seus instrumentos igualmente. A session tradicional é um campo minado de etiqueta. Se você for, por exemplo, um violonista, é aconselhável pisar em ovos. Em algumas sessions podem até te aconselhar a pisar no seu violão.”

Exageros à parte, de fato existe uma pluralidade enorme de sessions na Irlanda, de vários níveis e propostas diferentes, e sempre é possível encontrar uma session adequada ao seu nível e proposta, sem despertar a inimizade de músicos em sessions que tenham propostas mais específicas. Não é nosso objetivo aqui dizer a ninguém como organizar suas próprias sessions, mas sim contextualizar esta dentro de sua cultura original, com todas as suas idiossincrasias nada óbvias aos olhos de, no nosso caso, brasileiros muitas vezes recém-chegados. Também é importante entender um pouco como a música tradicional é estruturada, para que possamos fazer parte dessa experiência musical coletiva de modo a acrescentar algo, e não subtrair, ainda que por acidente. Assim esperamos poder ajudar a todos que tem interesse em participar de sessions mundo afora, a desmistificar o que acontece nesses encontros, e saber o que pode se esperar ao entrar em uma session com desconhecidos, especialmente na Irlanda.


  1. A História das sessions


A maioria dos historiadores concordam que a música de dança irlandesa, que compõe a maior parte do repertório das sessions, assumiu seu formato atual por volta de 1750, quando houve na Irlanda uma febre de dança que se espalhou pelo país, disseminada em grande parte por mestres dançarinos que percorriam os vilarejos ensinando os passos das danças, muitas vezes acompanhados por um gaiteiro ou um fiddler. Também se tornou comum com o tempo que músicos viajantes fizessem circuitos de vilarejos para tocar em seus festejos, e eventualmente alguns vilarejos começaram até a fazer “vaquinhas” para comprarem seus próprios instrumentos. Mas nesses dois séculos iniciais da tradição, o mais comum era que músicos tocassem sozinhos para a dança, ou, no máximo, em duplas. Talvez músicos se encontrassem ocasionalmente para tocarem juntos, mas essa certamente não era uma prática regular. A música tradicional de dança existia, de fato, como um suporte para a prática da dança, e não era comum ouvi-la fora destas ocasiões.

As primeiras sessions, tal como as conhecemos, provavelmente ocorreram em Londres, na década de 40. Após a Segunda Guerra Mundial, Londres (e todo o Reino Unido) recebeu um enorme número de imigrantes irlandeses, que trabalhavam em construções e outros trabalhos braçais. Dentre estes, havia alguns músicos amadores, que eventualmente encontraram um dono de pub amigável que permitiu que se encontrassem para tocar para si mesmos em um canto do estabelecimento. A grande ruptura aqui, foi que nestes pubs não era comum haver dança, criando assim um ambiente novo, onde a prioridade era a música, e não a dança. Este formato foi extremamente bem-sucedido em trazer clientes para os estabelecimentos em que ocorriam, e passou a ser replicado por pubs em toda a diáspora irlandesa, e também na Irlanda. Nascia assim a session moderna.


  1. Como funciona a música tradicional irlandesa de dança?


3.1 - Melodia, melodia, melodia.

Na música irlandesa, impera a melodia. Estas melodias normalmente são chamadas de tunes pelos músicos. Existem vários tipos de tunes, que são também os nomes dos tipos de dança para o qual são tocadas, como jigs, reels, hornpipes, polkas, mazurkas, barndances, set dances, etc. Os músicos aprendem a tocar estas melodias em seus instrumentos, criando um repertório cada vez maior, de talvez até milhares de tunes, no caso de músicos muito experientes. Aprendem também como fazer variações destas, especialmente através das ornamentações, que na música irlandesa possuem um significado diferente daquele usado na música clássica. As ornamentações costumam ser técnicas específicas para cada instrumento, e que criam efeitos rítmicos na execução da melodia. Nos encontros de muitos músicos, o normal é que os músicos toquem as tunes em uníssono, fazendo ornamentações cada um a seu gosto, mas ao mesmo tempo escutando os outros músicos e acrescentando e copiando as ornamentações uns dos outros de forma a compor um todo coeso. Assim, ao contrário da música brasileira ou estadunidense, onde normalmente temos uma base rítmica e/ou harmônica sobre a qual criamos ou executamos uma melodia, na música irlandesa a melodia é a própria base, e não requer acompanhamento (embora este seja possível, como veremos).


3.2 - Um assunto polêmico: acompanhamento

Falando sobre acompanhamento, este é um ponto por vezes controverso da música irlandesa. Historicamente, o acompanhamento percussivo ou harmônico era extremamente raro na música tradicional de dança, até o princípio do século XX.

Embora existam documentos esparsos de ambos ocorrerem antes disso, foi só com as primeiras gravações de músicos tradicionais na década de 20 que se tornou comum ter instrumentos harmônicos nesta música, e quase sempre este era o piano. A partir da década de 70 o violão e o bouzouki se tornaram populares também, graças a conjuntos como Planxty, The Bothy Band, e De Dannan. 

Paralelamente, o primeiro instrumento percussivo a ser usado de forma mais consistente na música de dança foi a bateria, nas céilí bands que se popularizaram a partir da década de 20 na Irlanda. Mais tarde, nas décadas de 50 e 60, Seán Ó Riada ajudou a popularizar o bodhrán ao utilizá-lo regularmente em seu conjunto Ceoltóirí Chualann. O bodhrán já era usado antes disso ocasionalmente, mas era pouco difundido, e só se popularizou na segunda metade do séc. XX.

A maioria dos praticantes da música tradicional considera que o papel do acompanhamento, seja percussivo ou harmônico, NÃO é dar uma base para a melodia, como numa banda de rock, e sim, pontuar e realçar os momentos importantes das tunes. Por isso, embora isso nos pareça contra intuitivo, muitos consideram que, na verdade, tocar acompanhamento na música irlandesa é mais difícil do que tocar um instrumento melódico, pois tecer um bom acompanhamento requer um conhecimento profundo de como funcionam as melodias irlandesas, de modo que os ritmos e harmonias de acompanhamento possam melhor complementar as melodias.  Uma recomendação quase universal feita a acompanhadores é que aprendam a tocar as melodias em algum instrumento, ou que pelo menos saibam cantá-las.

De fato, a maioria das tunes não possui uma única harmonia que deva ser tocada, mas sim várias possibilidades harmônicas que o acompanhador pode escolher, podendo usar, inclusive, mais de uma ao tocar a repetição de uma música numa session. Por isso, não é comum haver mais de um acompanhador harmônico numa session, já que há grande chance de harmonias conflitantes serem tocadas ao mesmo tempo nesse caso.

A percussão também costuma ser pensada de modo parecido. Bodhranais diferentes costumam acentuar pontos diferentes da melodia, e vários bodhráns ao mesmo tempo podem acabar por ficarem embolados, em detrimento do fluxo rítmico da melodia. Assim, é raro (embora seja perfeitamente possível!) haver mais de um instrumento percussivo numa session.

O que é importante é entender que, na música tradicional irlandesa, assim como em qualquer outra linguagem musical, existem diferentes “espaços” a serem ocupados. Os instrumentos melódicos ocupam todos o mesmo espaço, e, como tocam em uníssono, é possível ter um número enorme destes sem que haja nenhum conflito. Um grande número de instrumentos melódicos pode até ajudar a “disfarçar” os erros de algum músico menos experiente. Os instrumentos de acompanhamento ocupam um espaço diferente, e, excetuando situações de banda com arranjos pré-acordados, não tocam em um uníssono de ritmos e harmonias. Daí a dificuldade de ter muitos acompanhadores: se tivermos vários, com cada um tocando um estilo diferente, o choque será inevitável e pronunciado. Outro ponto importante é que as melodias irlandesas possuem, como dito antes, pontuações rítmicas particulares a cada composição. Se o acompanhador não for sensível à individualidade de cada tune e tentar usar um ritmo que vá “contra” o ritmo dado por aquela música, ou se não conseguir manter bem o andamento, o resultado pode ser bem disruptivo para os instrumentos melódicos.

Outro ponto fundamental é que o acompanhamento jamais deve ser mais alto em volume do que a melodia. Embora isso possa parecer óbvio, é algo que sempre se deve ter em mente em qualquer contexto musical. 

Obviamente existem muitas sessions de níveis e propostas diferentes, algumas educacionais e outras não. Assim, não fique intimidado em participar de uma session, mas tente entender qual o nível e proposta antes de participar, e regular sua participação de forma a sempre acrescentar à experiência musical coletiva.


  1. Como funciona uma session (de modo geral)


Em quase qualquer lugar do mundo, o desenho de uma session se repete: músicos sentam-se em círculo ou semicírculo com seus instrumentos, muitas vezes com uma mesa ao centro, onde repousam bebidas, e começam a tocar. Mas como isso se organiza? Para toda regra, existe uma exceção, mas vamos falar aqui sobre tendências gerais para sessions ao redor do mundo. 

Algumas possuem um intuito explicitamente educacional, ou são bem abertas a iniciantes, ou talvez até mesmo a maioria de seus músicos são iniciantes. Já outras são tocadas em um nível extremamente alto, em andamentos rapidíssimos. Algumas inclusive são mais ensaios de uma banda já existente que uma session de verdade. Sempre é aconselhável tentar entender a proposta e nível antes de sentar-se à mesa. Não tenha medo de conversar com os participantes ou público para tentar entender como ela é organizada, e como você pode se encaixar nela.

O mais comum é que haja um anfitrião, ou host, na session. Em contextos bem informais, onde todos os músicos são amigos e se conhecem  de longa data, pode ser difícil identificar quem seria este anfitrião. Mas ele costuma ser a pessoa que combinou com o pub ou estabelecimento como e que horas vai ocorrer a session, e costuma ser alguém com relativa experiência em música tradicional irlandesa dentro daquela comunidade. Em caso de algum problema, também é a pessoa que vai tentar resolvê-lo. Também deveria ser a pessoa que dá as boas-vindas e orienta novos músicos, embora alguns sejam mais amigáveis que outros. Ao chegar a uma session nova, é sempre recomendável tentar identificar quem é o anfitrião, e pedir a ele permissão para participar.

Embora possa parecer que os músicos estão tocando as tunes espontaneamente, normalmente eles seguem o seguinte procedimento: um músico puxa uma tune em um andamento que é confortável para ele, e os outros músicos que a souberem, a tocam junto a ele. A tune é habitualmente tocada três vezes, e após isso o mesmo músico que tocou a primeira, puxa uma segunda, e depois uma terceira tune, normalmente tocadas três vezes cada, no mesmo andamento e do mesmo tipo (reel, jig, etc). Ao fim de cada tune, normalmente os outros músicos param para ouvir qual a próxima a ser tocada. Estas sequências de três tunes tocadas em sequência são chamadas de sets. Em sessions onde todos se conhecem, é comum que os músicos iniciem estes sets sem pedir permissão, já em outras sessions pode haver até lista de ordem para ver quem será o próximo. Nosso conselho, ao chegar em uma session nova, é que é recomendável esperar ser convidado a puxar um set pelo anfitrião ou outro membro regular, ou pelo menos pedir permissão para iniciar um set. Também é bastante recomendável já ter em mente quais vão ser as tunes do seu set, tocar em um andamento confortável para você, e ter certeza de que você consegue tocar as tunes do início ao fim.

Se você toca um instrumento de acompanhamento, busque conversar com o anfitrião e ver o que ele acha da ideia de ter acompanhamento. Alguns podem ser mais conservadores e reticentes, já outros adoram. Alguns acham ótimo ter vários violões ou bodhráns tocando ao mesmo tempo, outros, nem tanto. De modo geral, é sempre bom pensar se o número de instrumentos de acompanhamento vai criar um ambiente sonoro onde é difícil ouvir a melodia. Numa session com 20 pessoas, o impacto de mais de um violão ou bodhrán não será tão grande, mas numa session com três violões e uma tin whistle, pode ser bem difícil ouvir a melodia!

É comum ouvir quem toca instrumentos melódicos se queixando de acompanhadores atrapalhando. É verdade que alguns melodistas simplesmente não gostam de acompanhamento, mas parte deste “preconceito” também tem razão histórica. Se você toca acompanhamento, tente sempre entender qual a melhor maneira de contribuir para a música sendo tocada naquele momento.

Caso você tenha curiosidade sobre o instrumento de algum participante, não tenha medo de perguntar, mas não toque neles  sem permissão, e  não fique chateado se não lhe permitirem tocar nele. Um instrumento de qualidade  pode  facilmente chegar ao preço de um carro no Brasil!

Ainda sobre instrumentos, se você está chegando agora no mundo da música irlandesa, vale a pena investigar também quais são os instrumentos usados tradicionalmente, ou no caso do violão, quais as afinações mais usadas. Normalmente é muito mais fácil tocar esta música em instrumentos tradicionais do que em instrumentos “exóticos”, de fora da tradição. Não é proibido, mas a dificuldade de adaptar instrumentos exóticos costuma ser maior em várias ordens de grandeza. Tocar um instrumento para o qual já existem técnicas bem-estabelecidas com certeza facilitará muito seu aprendizado da linguagem. Igualmente, fazer um violão soar bem em afinação DADGAD costuma ser infinitamente mais fácil que em afinação padrão. 

Ao perceberem que não conhecem a tune sendo tocada, o normal que um músico de instrumento melódico não toque, e ouça atentamente, e talvez pergunte a quem puxou qual o nome da música para aprendê-la em casa. Músicos extremamente experientes e com bons ouvidos às vezes conseguem tirar tunes de ouvido na hora, mas se for tentar fazer isso, é aconselhável fazê-lo em um volume bem baixo, que não atrapalhe os músicos que conhecem a melodia. Não é normal fazer uma “cama” harmônica em instrumentos melódicos. Músicos acompanhadores, ao ouvir uma tune desconhecida, costumam tocar bem baixo a primeira vez que a melodia é tocada, para tentar mapear onde estão as acentuações  rítmicas, tom, e acordes possíveis, e na segunda vez que a melodia é tocada, tocam com mais volume. Mas se perceberem também que a tune é muito complexa, é normal também que simplesmente não toquem nela, e busquem aprendê-la em casa mais tarde.


  1. A Session na Irlanda


Finalmente, chegamos ao ponto principal: como é uma session tradicional na Irlanda? Provavelmente ela não divergirá muito do que descrevemos acima. Mas existem algumas considerações importantes a serem feitas.

Existem literalmente centenas de sessions na Irlanda. Alguns pubs, como The Cobblestone e The Piper’s Corner, possuem sessions quase todo dia, às vezes até mais de uma por dia. A Irlanda possui um sistema de educação musical muito bem estruturado, e milhares de pessoas sabem tocar música tradicional, ainda que por hobby. Além disso, todo ano, milhares de entusiastas vêm à Irlanda para participar das dezenas de festivais de música tradicional que ocorrem principalmente durante o verão, ou mesmo apenas ir ao máximo possível de sessions que puderem encontrar.

A primeira consequência deste grande número de músicos é que as sessions se estratificaram em diversos níveis, com algumas sendo frequentadas por músicos do mais alto nível, muitas vezes bem famosos, e outras por pessoas de habilidade mais intermediária ou iniciante. Também não são incomuns sessions em que toca uma banda que já existe formalmente, e estão ali na verdade para fazer apenas um ensaio público, e nesse caso podem preferir que não haja nenhum participante externo. Existem também sessions com instrumentos que são, ou reproduzem, instrumentos históricos, e que muitas vezes não são afinados em 440Hz tentando recriar uma prática musical de uma época específica, e nesse caso podem não querer a participação de nenhuma forma de acompanhamento, uma vez que este não existia na época destes instrumentos, ou até mesmo restringir o repertório a um período histórico específico. Finalmente, também existem sessions onde só se usam instrumentos afinados em mi bemol. O importante é perceber que diferentes sessions podem possuir propostas bem específicas, dentro da qual alguns repertórios e instrumentos podem não se encaixar. É importante respeitarmos essa pluralidade de espaços e propostas específicas (que, a bem dizer, são uma minoria) e procurar espaços que sejam adequados aos nossos níveis, instrumentos e repertórios.

Outra consequência do grande número de músicos é a alta rotatividade de pessoas novas que acaba acontecendo em sessions em cidades maiores. Ao contrário das sessions no Brasil, no Rio e em São Paulo, onde quase todos se conhecem, a chance de aparecer algum novo músico numa session em Dublin é altíssima. Se nesta houver um novo músico que reúne a característica de tocar muito alto, desafinado e fora do tempo, especialmente em uma session de alto nível, os frequentadores regulares provavelmente ficarão chateados se isso prosseguir por muito tempo. Como dito antes, o acompanhamento na música irlandesa pode ser maravilhoso, mas tem o potencial para ser muito disruptivo se o músico tiver dificuldade em manter o andamento, ou tocar ritmos que choquem com a tune, ou se tocar acordes que não se encaixam na melodia. Infelizmente, um preconceito que muitos carregam é que violão e percussão seriam mais fáceis de tocar do que um instrumento melódico, quando, na verdade, o oposto é verdade. Um bom acompanhamento é feito a partir de um conhecimento profundo das necessidades de cada melodia e dos músicos que as tocam naquele momento. Daí a recomendação quase universal de que acompanhadores também saibam tocar as melodias.

Mas a principal recomendação para uma session em qualquer lugar do mundo é a mesma: escute a música sendo tocada e converse com os participantes. Você provavelmente será bem-vindo a participar, mas não fique chateado se lhe pedirem para ficar de fora em alguma ocasião. Existem outras sessions esperando por você.


  1. Conclusão


Aprender uma linguagem musical é semelhante a aprender uma linguagem falada. Ela nos dá acesso a uma nova cultura, novas perspectivas e novas pessoas. Mas também nos tiram de nossa zona de conforto, e nos forçam a reavaliar nossas certezas. O processo de aprendizado da linguagem é infinito e inesgotável, mas também traz recompensas quase infinitas, se mantivermos nossos ouvidos e mentes abertas.



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