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WOLFSTONE: O Lado B das Portas de Entrada

Atualizado: 22 de abr. de 2023




Chamamos de “portas de entrada” os produtos musicais que, tendo algo de firmemente enraizado ou influenciado pela música celta ou irlandesa, aproximam essa matriz a estilos de apelo mais popular – e portanto tratam de aclimatar o ouvinte com esses sons que mais tarde, talvez o farão passar noites em claro tirando tunes, tocando em sessions e lendo O Pint Diário. Algumas dessas portas de entrada ficaram bastante famosas, como o Irish punk do Flogging Molly e do Dropkick Murphys, o New Age da Enya, o folk metal do Eluveitie… e continuam proliferando-se em velocidade cada vez mais assombrosa, graças às maravilhas tecnológicas da internet. Mas, cá entre nós, o astuto leitor não precisa d’O Pint Diário para lhe apresentar essas beldades. Por isso, vim contar-lhes de um fantástico roquenrou celta que passa um pouco mais desapercebido pelos radares do trad popularizado – o lado B, digamos assim, das portas de entrada para a música celta.





Apresento-lhes Wolfstone. Originária de Inverness, no norte da Escócia, o que temos à primeira vista é mais uma iteração do velho truque de temperar canções e tunes tradicionais com guitarras, baixo, bateria e sintetizador. Mas há algo de bastante único neles. Conheço-os há muitos anos, mas nunca consegui perfeitamente encaixá-los no espectro de outras bandas de rock celta, como as que citei acima. Não são da seita do punk, e tampouco do heavy metal – talvez um “hard rock” celta? Mas com sintetizadores e uma suavidade bem própria. Mas também nada parecido com Enya. Me lembra um pouco os mais famosos Waterboys, mas talvez um tico mais puxado pro lado Rush da Força.





O que têm de celta é notadamente escocês. A forte presença da gaita de foles escocesa já denuncia, com seu timbre poderoso e estridente. Diferente da gaita irlandesa que tem um som mais… bem… sabe, é muito difícil colocar em palavras, mas tá aí um belo exercício para quem está se familiarizando com a sonoridade desses estilos musicais: gaita irlandesa ou escocesa? Pessoalmente, sempre imagino a gaita escocesa lançando um rígido jato sonoro feito para ser escutado agradavelmente a uma distância segura de cinco metros ou mais: perfeito para uma banda de rock! Já a gaita irlandesa, de timbre mais baixo e vozeado mais variado, me parece mais sutil e feita para se ouvir mais de perto, prestando mais atenção nas nuances e variações. E falando, ainda, em exercícios legais de percepção (gosto de pensar: joguinhos que nos ajudam a prestar atenção na música e aprender com ela), tentem contar o ritmo disso aqui:





Após três faixas do mesmo álbum, fica claro que a minha sugestão-mor aqui é Almost An Island, um álbum de 2002 em que a mistura ficou ideal entre o trad assertivo das raízes escocesas do Wolfstone e o som mais vintage do rock que misturam com tanta classe. O álbum subsequente, Terra Firma (2007), puxa um pouco mais na distorção da guitarra, têm um pouco de funk aqui e ali, e um salto reparável na qualidade de produção – quiçá até na elaboração das tunes, que começam a lembrar um pouco mais bandas mais conhecidas de acid croft, como o Shooglenifty. Os vocais também se afastam um pouco mais do trad e se aproximam mais do rock. Bom? Bom! Mas, contaminada pelo fervor do final da década de 2000, aquelas notas de Rush ficaram meio substituídas por um aftertaste de Smash Mouth que me faz sentir assistindo um filme sobre ogros bonzinhos na Idade Média. Ouçam por vocês mesmos:





Ogros à parte, é notável o desenvolvimento e refinamento musical da banda entre o seu penúltimo álbum e o último:





Mas não posso negar, meus queridos leitores: meu coração pertence ao roquenrou oitentista, com toda a sua cafonice épica que nos enche de vontade de dançar a noite inteira e aprender karate. Então apresento também uma amostra do segundo álbum do Wolfstone, The Chase, que apesar de ser de 1992 ainda retém uma forte identidade da minha década favorita do rock – e, vejam só, ainda surpreende com alguns discretos momentos que, indubitavelmente, me lembram as viradas progressivas do Jethro Tull:



O estado atual da banda me é desconhecido. Apesar de fontes como Wikipedia indicarem que a banda está ativa no presente, isso parece ter sido escrito em meados de 2012. O site oficial da banda está fora do ar. Resta-nos, então, conhecer a “vidia e óbria” do Wolfstone segundo armazenada nos maravilhosos arquivos internéticos que aproximam cada vez mais pessoas dessa maravilhosa música celta e seus desdobramentos pós-modernos.





Abaixo, o perfil do Wolfstone no Spotify – notem, porém, que dois grandes ábums da banda ficaram de fora deste serviço de streaming, e portanto os incorporo abaixo também.


















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